A princesa Maria – Autismo

 

A Sónia trabalha na minha empresa há quase tantos anos como eu. Na verdade, e sem perceber bem como fomo-nos tornando amigas.

A Sónia é minha amiga.

A gravidez da Sónia:

Lembro-me de ela estar grávida. Tinha tantos cuidados que eu, francamente aqui que ninguém nos ouve, achava que era demasiado….Assim, a  Sónia deixou de pintar o cabelo, as unhas, só usava cremes neutros, não comia isto aquilo… A Sónia é bonita e estamos habituados à imagem dela sempre impecável, mas na gravidez ela não quis saber. Primeiro estava a sua gravidez.

Nasceu a Maria!

Passados nove meses nasceu a tão esperada bebé, era uma menina e chamaram-lhe Maria.

A sua tez branca, olhos azuis e cabelos claros não faziam adivinhar o que ainda viria por aí… Ela era uma princesa afinal!

Os anos foram passando e a Maria não comunicava como os outros meninos, não falava. Percebeu-se que a princesa Maria vivia num mundo diferente do nosso. Num mundo só dela. A Maria tinha autismo. A Sónia iniciou uma batalha para salvar a sua princesa… As coisas não iam melhorado…

Confidênciava comigo: “O autismo é dos mais graves, mas porquê?” Sem palavras eu não sabia o que dizer, engolia em seco e tentava animá-la… Quando perdi a minha Mãe a Sónia esteve sempre ao meu lado, apesar de todas as suas limitações, ela arranjou tempo para me consolar, dar -me um abraço e até chegamos a passear as três por época do Natal.

Foi uma experiência complicada e sofrida para mim, confesso. Quando via a Maria entrar em crise só me apetecia pegar nela ao colo, abraçá-la e dizer que vai ficar tudo bem, que eu garantia…Mas eu já não posso pegar na Maria ou colo nem tão pouco garantir que vai ficar tudo bem. Neste momento ela aguarda uma vaga no Hospital da Estefânia.

Lá ficaria internada, onde seria observada para um ajuste de medicação. Mas a vaga não chega… Falei com uma médica conhecida e ela disse que não há vagas. A taxa de tentativas de suicídio nos adolescentes é muito grande e não há vagas para já. Que só se internassem numa instituição, longe dos pais. “As vezes é melhor, sabes…”

A Revolta e a aceitação:

Revoltei-me, andei dias a remoer este assunto dentro de mim… A Sónia disse-me ” Deixa, vamos esperar, e lutar, enquanto tivermos forças vamos lutar ..“Esta é a história da princesa Maria mas, questiono-me : “Quantas Marias haverá mais por esse país fora?” E até quando esses pais vão conseguir continuar a lutar?!

Foto Autorizada pela Mãe da Maria
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