CATARINA DO INFERNO PARA A VIDA

No dia 12 de Fevereiro deste ano, o meu mundo desabou. Eu não conseguia levantar-me da cama. Não conseguia concentrar-me nem a ver televisão, nem a ler um livro … nada…

Uma tristeza enorme apoderou-se de mim…

Não queria sair de casa nunca mais. Achei que a minha vida tinha acabado…

Comecei a minha “peregrinação”de psiquiatra em psiquiatra… Nada resultava …Burnout acompanhado de uma depressão Major foi o meu diagnóstico final.

Ouvi coisas como: “Penso que poderá ser Bipolar, bordeline, ou ter uma personalidade cluster B” … Assustada e cada vez mais amedrontada…. Pedia a Deus para adormecer e não acordar mais…

Ninguém acertava com a minha medicação… A cada dia piorava, querer morrer passou a ser o meu lema diário. Várias idas à Psiquiatria em S. José em episódios de urgência, já era conhecida na “casa”.

É difícil colocar em palavras tudo o que senti. Cheguei a procurar na internet sobre Eutanásia em caso de depressão grave, na Suiça isso é possível.

Procurava coisas como “morrer durante a noite”…

Estava na casa do meu pai, precisava de cuidados constantes, mas, por vezes, quem mais te ama, não consegue fazê-lo, e eu estava cada vez pior e pior…

No dia 16 de Maio deste ano, resolvi internar-me numa clínica… Não foi fácil perceber que precisava de uma ajuda mais forte, que teria que sair dali…

Pedi para ser internada na área de Agudos de curta duração, sendo que os internamentos de curta duração eram até 3 meses ou um pouco mais….

Lá fui, com esperança, mas cheia de medo….

No início não foi fácil, o estado de espírito mantinha-se… Cheguei a enviar mensagens – ” Se for para morrer, que morra em casa do meu pai…”

A minha tia/madrinha disse: “Fica pelo menos uma semana, se não aguentares eu mesma vou buscar-te”. Aceitei a proposta, meio contrariada, mas lá fiquei.

Achava que todos estavam melhores que eu… Não falava, não sorria, dali a 5 dias viria para casa para morrer… era o meu consolo.

Mas aos poucos percebi, com ajuda de cada membro da equipe, que iam desde a psiquiatra à auxiliar, que teria talvez que ficar mais do que 5 dias.

Fiquei cerca de mês e meio na clínica…

Comecei a interagir com os outros utentes e comecei a achar que ia ficar para sempre ali… Os meus amigos eram a Alice, a Teresa, a Carla, a Mónica e o meu querido Lucas, entre outros… Era com eles que chorava, desabafava, partilhava as minhas angústias… Como devem compreender, não falarei em nenhum caso das patologias dos meus amigos. O que nos unia era a angústia, o medo…

“Vais ficar bem, eu acredito que sim, eu estou pior que tu…”- Mas eu não acreditava…

Não pretendo fazer disto uma história cor-de-rosa, no entanto, quero voltar para vida. E aos poucos vou procurar falar-vos mais sobre saúde mental…

Um assunto tão  maltratado em Portugal. Correndo o risco de ser considerada “Aquela tipa é maluca, até teve que ser internada num hospital de loucos!”, vou arriscar e partilhar dicas que possam ajudar pessoas na mesma situação (alguns escondem, outros definham, chegando mesmo a pôr termo à vida).

Há esperança, a luz pode voltar a brilhar… mesmo que tudo vos pareça negro…

Não se preocupem que voltarei a falar de moda e perfumes, etc., porque a personalidade mantém-se… E eu quero voltar a apaixonar-me pela vida…

Peço alguma paciência da vossa parte, pois não é fácil partilhar o que foi a minha descida ao Inferno.

Um beijo e um abraço apertado,

Catarina (como havia outra Teresa, eu fui Catarina durante quase todo o internamento, Catarina é o meu segundo nome).

 

 

*Os transtornos de personalidade do Cluster B são uma categorização de transtornos de personalidade. Eles são caracterizados por pensamentos, comportamentos e interações com outras pessoas dramáticas, excessivamente emocionais ou imprevisíveis. Eles incluem o transtorno de personalidade antissocial, o transtorno de personalidade borderline, o transtorno de personalidade histriónica e o transtorno de personalidade narcisista. O Serviço Nacional de Saúde Britânico descreveu as pessoas com estes transtornos por “lutarem para se relacionarem com os outros. Como resultado, elas mostram padrões de comportamento que a maioria consideraria dramático, errático, ameaçador ou perturbador.

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